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Por Lucía Wasserman

Sentia necessidade de telefonar, apesar da hora incomoda, que acostumava repousar.

Fui direto ao assunto, afinal Anita era uma amiga de tantos anos.

-Como tem passado?

-Eu pessoalmente me sinto bem, apesar de que meu quadro clínico esta «lamentável», segundo os médicos.

-Que dizem eles?

-Seguir o tratamento…

-Podemos nos encontrar nos proximos dias, ir a um café, a um cinema?

-No momento não… meu sistema imunológico esta a zero, não tenho defesas, nem pude me vacinar contra Corona.

Dez meses antes num encontro com amigos, ela havia comentado rindo, que todos os itens de seu quadro sanguineo, estavam fora dos parametros normais, pontos vermelhos espalhados num folha branca, imitando a famosa pintora japonesa Kusama.

Sua máscara contra Covid, não a tirava, e este era um bom motivo para cobrir sua mascara facial, que com o passar de semanas foi se tornando mais enrugada,pálida e cinzenta.

Nascemos e vivemos no Brasil, na mesma cidade, no mesmo bairro frequentamos a mesma escola,e  jamais  haviamos nos cruzado, quem sabe pela diferença das idades.

Nos reencontramos em Israel, ha mais de 50 anos atrás.

Com o tempo nos tornamos intimas amigas com mutuos interesses, curiosidades, eramos jovens e sentiamos que a vida que tinhamos pela frente era eterna.

Já casadas, e cada uma com um casal de filhos, trabalhavamos em profissões distintas, mas tinhamos muito em comum.

Seu casamento não foi feliz, e comentava que o melhor dia de sua vida foi quando recebeu o Get do esposo.  Divorciada, por mais de quarenta anos, não conseguiu refazer sua vida economica e afetivamente.

Mas isto não a abalou. Tinha força de carater, lutou e seguiu em frente com sua inteligencia, porte nobre e permanente sorriso.

Os aniversários se acumularam, e apesar de necessitada enfrentou e superou situações dificeis, e viveu de acordo aos principios e metas que ela mesma fixou.

Graças a sua iniciativa, seu pequeno apartamento localizado no sub-solo de um antigo predio em Ramat Gan, foi destruido, e ela foi quem liderou os moradores do edificio a lutar para receber em troca uma nova moradia em melhores condições.

Os filhos casaram, nasceram os netos, os primeiros bisnetos, e tudo era motivo para festas e jantares que ela sozinha preparava com afeto e habilidade, seguindo as receitas da cozinha hungara e dando aos mais simples encontros um toque sofisticado europeu.

O projeto da nova moradia, lhe assegurava um padrão de vida melhor, e uma aposentadoria digna e segura numa época da vida que so tinha a desfrutar.

Aos oitenta e cinco anos ativa física e mentalmente lhe diagnosticaram uma Leucemia Aguda.

Apesar do duro tratamento continuamos a nos ver e frequentar.

Ela sabia que tinha pela frente alguns poucos meses, e apesar de nossa amizade e intimidade preferiu isolar-se com suas ideias e seus temores, sem falar ou compartir a realidade que a golpeou e a levou ao Oriente Eterno.

Há duas semanas faleceu. O enterro foi num cemitério pastoral laico.  O trajeto a tumba no campo santo, foi acompanhado de uma grande sensação de Paz, sem angustia e sem dor.

Sob a musica de Bach o caixão de madeira cor de rosa, coberto de flores, movido por uma máquina desceu e pousou lentamente na derradeira e ultima morada.

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