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Por Lucía Wasserman

Naquela pacata cidade de Ashkelon, a alguns kilometros da Faixa de Gaza, Felicia e Alfredo -imigrantes do Brasil- resolveram montar sua nova residencia.

Sempre haviam sonhado morar em cidade praiana, de preferencia frente ao mar, e assim que conheceram o apartamento que o proprietário anunciava vender, não hesitaram.

-«E aqui que vamos morar!» Anunciou o casal aos familiares de alem mar, que ficaram surpresos com a bela linda foto do lugar enviada por internet.

-«Mas tão perto de Gaza»…comentavam conhecidos e familiares,» é preciso ter coragem…!»

Os primeiros anos foram tranquilos. O casal desfrutava de seu amplo terraço, com vista para o mar que se estendia ao infinito. Os pequenos barcos que pela manhã saiam a pesca, lhes traziam lembranças carinhosas brasileiras da Ponta da Praia, junto ao porto de Santos. Aos fins de semana os banhistas povoavam a cidade de Ashkelon, provocando engarrafamento de tráfego, barulho, mas também consumiam o que era fonte de renda para os restaurantes e kioskes locais.

Felicia e Alfredo, alimentavam por muitos anos a ideia de emigrar para Israel. Ambos criados e educados em escolas e judaicas sionistas, de São Paulo, ainda antes da proclamação do Estado de Israel.

Vieram atrás dos filhos que os precederam anos antes, e agora eram estudantes e moravam num kibutz no norte de Israel.

A adaptação do casal foi rápida, exitosa. Dominavam a lingua hebraica desde a infancia, gozavam de uma boa pensão e aposentadoria, que lhes permitia um ritmo de vida de alto padrão, tranquilo.

Naquela tarde quente de maio, Felicia comentou com o marido:

-«Não sei porque, hoje sinto-me esquisita… não sei explicar, esta tudo bem, mas estou ansiosa, intranquila…»

-«Vamos dar uma volta na praia» sugeriu Alfredo.

Andaram no calçadão conhecido ate escurecer e ja cansados, entraram numa pizzaria. Enquanto tomavam uma cerveja e aguardavam serem servidos, a primeira sirene soou, era o alarme.

Todos se levantaram em panico garçons, cozinheiros e fregueses sairam correndo a procura do refugio, como formigas esvairadas que procuram sobreviver a inceticidas.

«-Venham, venham atrás de mim» gritou alguem dirigindo-se ao abrigo anti aereo que ficava num porão de dificil acesso, tropessando em deslizes e pisando em degraus quebrados.

Felicia e Alfredo, alarmados pelo susto queriam acompanhar o grupo. Nunca haviam enfrentado tal situação mas as pernas paralisadas se negavam a obedecer. Estavam perplexos, amedrontados.

Passados alguns minutos ouviram a explosão dos foquetes. Foi um batismo de fogo. Agora um redemoinho de medo e emoções coletivas pairava no ar

A volta para casa foi desgastante.

Chegaram ao edificio exaustos. Como o uso do elevador estava proibido, subiram a pe os sete andares.  Max, o jovem buldog, foi quem os recebeu com alegria, aos saltos quase derrubando os donos, apoiando suas patas dianteiras contra corpos cansados

Nem bem chegaram soou o telefone .

«-Por onde andam?» -gritou Edi o filho que mora no kibutz no norte de Israel. A voz nervosa, e impaciente. Estou super preocupado, as noticias informam que foguetes foram atirados de Gaza contra Ashkelon.

«-Voce não precisa nos contar Edi, sentimos o susto na pele. Fomos surprendidos numa pizzaria, estamos chocado as sirenes amedrontam. Felizmente conseguimos voltar para casa».

– «Peço e insisto deixem tudo, tranquem a casa, e venham de imediato para ficar comigo no kibutz».

-«Mas como… deixar tudo de um momento para outro» interviu Felicia entrando na conversa.

-» Não pensem muito… voces tem que se proteger, se reguardar. Ashkelon tão proxima a fronteira esta na mira dos foguetes…»

Felicia e Alfredo sentados em sua sala, estressados olham um para o outro sem saber o que decidir. Naquela aflição e dificil tomar decisões, alem da vontade de manter-se vivo…e sobreviver.

O casal havia conquistado a simpatia dos moradores do edificio. Por serem idosos todos os tratavam como «os avos » das inumeras crianças que la viviam.  Felicia inclusive havia se voluntariado para ser sindica do predio, função que executava com zelo e dedicação. 

-«Estamos perante um dilema» comentou Alfredo, sentado em sua dileta poltrona enquanto Felicia lhe trazia sua dose diária de wiskey.

-«Fugir é facil… seria a solução para superar o medo, e ate salvar a vida… Antes de vir morar em Israel, sabíamos que aqui não é um mar de rosas, e tudo pode acontecer.

E agora, deixar tudo, trancar a casa?  Não enfrentar nosso primeiro desafio?»

«Com que cara vamos olhar nossos  vizinhos que aqui permaneceram?»

Em meio a isto ouviam-se os insistentes toques das sirenas que durante 24 horas clamavam: Protejam-se!

Alfredo e Felicia resolveram estoicamente ficar. Enfrentar e conviver com o medo.

Ao filho responderam:

-«Não queremos ser herois, nem mártires neste conflito. É simplesmente uma questão de consciencia. Aqui é nossa casa e aqui vamos permanecer»

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