Renata estava esperançosa de que a futura nora Carolina, se tornasse apos o casamento mais uma filha, «irmã» dos demais filhos nascidos em sua numerosa prole.
Mas desde o começo, as diferenças se fizeram sentir. Carolina tinha uma personalidade dificil. Era tímida, acomplexada, desconfiada, nostalgica.
Alberto, o patriarca da familia sefaradi, severo e prepotente, criticava o filho Noah pela «infeliz escolha», alegando que a convivencia com uma nora «vus vusit», traria problemas, pelas diferenças dos hábitos e costumes entre as duas comunidades.
Mas o casal estava apaixonado, e Noah o «bohor» resolveu casar.
O casamento foi realizado, com uma pomposa festa de salão e dezenas de convidados quando foram notadas as primeiras diferenças, o grande numero de convivas por parte do noivo, comparado as duas dezenas de convidados por parte da noiva.
Carolina orfã de pai, justificava. A maioria da familia fora extinta no holocausto, e alem do mais as condições economicas não permitiam esbanjar dinheiro…
No momento da troca dos aneis e sob a benção do rabino, Alberto emocionado olhava o casal e com um certo remorso se perguntava: «sera que fui injusto em pre julgar Carolina?… afinal é uma judia… e os dois parecem tão apaixonados…».
A vida do casal num novo apartamento se iniciou. Noah, empregado como funcionário no antigo negocio do pai, e Carolina dando aulas particulares, estudando e frequentando a Universidade.
Nasceram os quatro filhos, e o quadro familiar parecia ser o ideal. Noah progredindo e enriquecendo, Carolina criando e educando seus filhos,e colecionando postos e diplomas universitários.
Entrementes, a mãe de Carolina, viuva de muitos anos, veio a falecer. Renata para compensar a falta da mãe fez de tudo para aproximar-se da nora, dar-lhe atenção, carinho e apoio necessário, ajudando-a nos cuidados dos filhos.
A todas tentativas de aproximação Carolina regeitou. Fez questão de manter distancia. A qualquer sugestão de ajuda por parte da sogra respondeu com total indiferença, evitando conversas ou intimidade. A convivencia tornou-se dificil e complicada, e Carolina a «castigava», por razões desconhecidas.
Alberto comentava com Renata «Em que armadilha nosso filho nos meteu…» todos os intentos de aproximação fracassaram e nada poderia ser feito, a não ser aceitar a nora, a mãe de seus netos, e esperar que pelo menos o casal se mantivesse unido.
A um certo momento , e sem saber o porque, Renata recebeu uma carta ofensiva de Carolina comunicando que para o bem de todos ela decidiu afastar-se e cortar as relações com a familia, e acrescentou que «dependeria da atitude dos sogros, se o bom relacionamento com os netos iria continuar»…
Meses depois Noah e Carolina se divorciaram.
«Ganhamos de volta o nosso filho «, comentou Renata, numa mescla de sentimentos conflitantes.
E o epílogo desta estoria, entre milhares de outras que narram crises familiares, veio a luz com a publicação no jornal que anunciava que Carolina fora a segunda colocada num concurso literario de contos curtos.
O conto autobiografico, relata parte de sua infancia quando seu pai voltando para casa, ferido mentalmente pelas atrocidades da guerra se transformou num outro homem. Por anos, ainda criança ela foi testemunha das explosões fisicas e mentais, que ocorriam em casa especialmente no meio da noite quando vinham os pesadelos e seu pai gritava em desespero. A solução foi interná-lo num asilo psiquiatrico para doentes mentais, ate o resto de seus dias.
Deixou de herança a esposa e aos filhos almas «feridas e machucadas».
Renata le o conto e começa a conhecer a ex-nora Carolina.
Suas palavras escritas são um conto triste descritivo e revelador. Uma verdadeira auto terapia.
Os segredos ocultos de Carolina vem a tona, ela os revela, se espalham ao seu redor, e ela se libera.
Triste Liberdade! Que em nada pode curar, comportamentos e erros passados…