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Por Lucía Wasserman

Duas semanas apos o inicio da guerra entre a Russia e Ucrania, em fevereiro de 2022, decidi atender ao apelo de amigos, e voluntariei-me a ajudar os novos imigrantes e refugiados que chegavam no aeroporto de Ben Gurion.

Era uma noite fria e chuvosa quando me chamaram para atender os viajantes, que iriam aterrisar as 23.30 horas da noite.

Quando la  cheguei, alguns ja se encontravam no grande salão, e acomodavam-se em bancos e cadeiras, acompanhados de sacolas, malas, animais engaiolados, e pertences pessoais.

La dentro respirava-se  corpos humanos, o ar era pesado e abafado. 

Frente a eles algumas mesas com funcionarios do Ministerio do Interior, que recebiam e entrevistavam os novos chegados, e os orientavam para onde se dirigir.

Eu vestindo um avental branco circulava entre as filas de cadeiras empurrando um carrinho de bandejas e lhes oferecia, a primeira refeição na Terra Santa. Chá, cafe, agua e refrigerantes, sandwiches, burrecas, doces e chocolates. Alguns avançavam famintos se serviam o quanto podiam, outros indiferentes se rendiam ao cansaço e pegavam no sono nas proprias cadeiras.

Me chamou a atenção uma garotinha sentada no colo de sua mãe, de gorro cor de rosa, tricotado a mão, suas pequenas mãozinhas agarrando um pequeno animal de pelucia vermelho. Ela o sacudia, o puxava o jogava de um lado para outro.  Sorria feliz, emitindo pequenos gritos, seus grandes olhos azuis percorriam com curiosidade aquele ambiente estranho, desconhecido, que não a atemorizava.

Sua jovem mãe de aparencia triste e cançada, mostrava um rosto sulcado com  grandes olheiras. As duas estavam sos.

A um certo momento a pequena atirou no chão seu animal de pelucia e pos-se a chorar.

Corri em sua direção e entreguei-lhe a pequena prenda, sorri e quis lhe acalmar.

Ela me sorriu de volta. Ofereci a ambas uma barra de chocolate. A mãe o negou.

Continuei meu voluntariado da noite, circulando entre os chegados, distribuindo a leve refeição, vez ou outra trocando uma ou outra  palavra em ingles.

Com o passar das horas o grande salão foi se esvaziando, as pessoas se dirigindo a diferentes locais, alguns acompanhados de seus parentes, que vivem em Israel.

Terminava meu voluntariado daquela noite, quando notei que as unicas que haviam permanecido naquela Terminal, era a menina de gorro cor de rosa que ja dormia, e sua mãe que parecia desamparada, ansiosa, desesperada.

Dirigi-me a mesa de funcionarios e quis saber do porque?

-Elas não são judias, e no momento não estamos autorizados a recebe-las, respondeu o funcionario secamente.

-E então, que será delas perguntei?

-Terão que voltar ao lugar que embarcaram…

-Mas é um absurdo, devolverem uma mãe com uma criança para um pais em guerra?

Não podemos ajudá-las, recebe-las como refugiadas?

-No momento não temos autorização do Ministerio…

-Mas trata-se de uma questão humanitária, e não de Ministerios, gritei.

-Não ha o que fazer… disse o funcionário, e foi atender  um chamado  telefonico

A mãe carregando a criança, ao meu lado, seguia o dialogo, e apesar de não entender o significado das palavras comprendia o que se passava.

Seu olhar era uma súplica para que eu intervisse e ajudasse.

O que eu poderia fazer?

Comecei a pensar comigo mesma. Tenho condições de receber em minha casa esta mãe ucraniana e sua filhinha? A vontade e a empatia é grande, mas do ponto de vista prático como o farei ? Terei que mudar e transformar minha realidade cotidiana? A minha idade as mudanças não são fáceis. Não tenho aquela “elasticidade” de quando jovem. Costumes arraigados me prendem a meus hábitos, e ha dificuldades a novas adaptacões…

Por outro lado porque não recebe-las, e proporcionar-lhes comodidade quando temos uma casa com espaço suficiente para abrigá-las?

Como conversarei com a mãe que não domina o ingles? Não a conheço, será que ela é uma pessoa asseada, honesta, e se for agressiva, de maus hábitos, que fuma, eu não suporto cigarro…

Como meu marido aceitará a ideia de receber esta refugiada em casa com sua filhinha. Terá ele paciencia, e se resolvermos que sim, por quanto tempo…?

Indagações e indagações surgiram num curto espaço de tempo. De repente me vi de alguma maneira ansiosa e pressionada a tomar uma resolução.

Não tive a coragem nem a disposição de decidir o que fazer.

A uma hora tardia da madrugada, cansada e estressada moralmente, achei melhor voltar para meu canto “seguro”, com meus companheiros voluntários, e fugir do problema.

Não soube o destino que tomaram a jovem mãe e sua filhinha. Durante semanas seguidas, os grandes olhos azuis da pequena, e os olhos suplicantes da mãe, me acompanharam.

Imaginei eu, avó de netos adolecentes, e reservistas de exercito, ter novamente em meus braços aquela pequena boneca, abraçá-la e brincar com ela, num momento crucial de sua vida, quando necessitava como sua mãe, de tanta de proteção, cuidados e carinho.

Como  faria bem poder  ajudá-las?   Minha consciencia pesava, não me deixava, e uma grande depressão me acompanhava. Porque não tive naquele momento o altruismo necessario para dar um passo corajoso e valente?

Hoje me culpo. Penso que perdi a oportunidade de aumentar e ganhar uma pequena e original familia. Poderia estravasar desta maneira meus bons sentimentos, e meu  coração que tem tanto a dar e repartir.

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