Atraves da janela,ao amanhecer, eu as vi e me surprendi:
cinquenta e nove cadeiras vazias, sentinelas amarelas,
erguidas na praça ao lado de casa, com nomes e faixas gravados.
Vozes silenciosas presentes, ausentes, reféns de Guerra.
Firmes, altivas, alinhadas,como soldados em vigília muda,
colocadas entre flores, e pedras testemunham o bairro que desperta
e se move,os onibus,o passo apressado dos transeuntes,
os cães, os carros,e os caminhões pesados.
Mas depois do sol e calor, veio a chuva e a noite fria, trouxe o vento cortante,e ao despertar, vi o cenário ruir.
As cadeiras tombadas,espalhadas ao acaso,
caídas umas sobre as outras,os nomes e as faixas misturados,
vivos e mortos,entre papéis dançantes sob a fúria do vento.
Senti um nó em minha alma.Quis correr a praça e erguê-las,
mas o vento e a tempestade me contiveram.
Ali, diante de mim,a esperança tombava sobre a relva molhada.
E o céu cor de chumbo se fundia ao meu peito,as cadeiras amarelas, outrora firmes,agora jaziam como eco de um lamento.