Na próxima reencarnação
quero ser uma oliveira
crescer devagar
entre centenas de outras
no sul da Itália
onde o tempo anda descalço
quero sentir o sol escorrer pelas folhas
ouvir o zumbido morno do verão
o mar ao longe —
Mediterrâneo, Adriático,
dois pulmões soprando vida
quero estar ali
no meio do campo
com as raízes fundas
e a cabeça cheia de vento
ouvir as histórias das antigas
as que viram guerras,
amores,
e secas
mas ainda florescem
porque não sabem fazer outra coisa
além de resistir
quero dar fruto sem pressa
azeite sem cerimônia
ser abrigo de pássaros
e silêncio
quero existir
sem precisar explicar
