A luz havia caído logo cedo, e o portão elétrico da garagem recusava-se a abrir. Sem alternativas, chamei um carro pelo Gett.
O atraso já começava a pesar – o escritório no centro de Tel Aviv nos esperava com sua pilha de pendências, e meu humor oscilava entre tensão e exaustão.
A manhã também não ajudava: as notícias, duras como sempre, falavam de três jovens soldados mortos, da continuidade da guerra,e do sofrimento humano em Gaza, sempre acompanhado da crítica internacional que recaía sobre Israel.
Nem mesmo o céu límpido, a brisa leve do mar ou o verde teimoso que florescia pelas calçadas,apesar de um inverno tímido em chuvas – conseguiam me animar.
O carro chegou. Um Toyota branco, limpo como um hospital e com ar gelado que aliviava o calor da ansiedade.
O motorista, um jovem alto da Bielorrússia, falava hebraico com um leve sotaque russo. Era educado, gentil – e, naquele instante, só isso bastava.
Com a ajuda dele, eu e Marcos nos acomodamos no banco traseiro.
Sentei. Respirei. Relaxe! – disse para mim mesma. E, como quem se permite um raro descanso,deixei o olhar se perder através da janela.
O carro deslizava pela cidade desperta. Música suave preenchia o espaço, e, pela primeira vez naquela manhã, me senti passageira.
Não era eu quem guiava. Não era eu quem decidia o caminho. Eu podia simplesmente olhar.
E o que vi me devolveu a esperança.
Um jovem pedalava levando dois cachorros, felizes e atentos.
Uma mãe empurrava um carrinho onde cochilavam dois gêmeos ruivos, a caminho do jardim.
Um grupo de estudantes, mochilas coloridas nas costas, atravessava a rua em direção à escola.
Caminhões passavam pesados, conduzindo materiais para as novas construções que brotavam por toda parte.
Guindastes apontavam para o céu como promessas de futuro.
Nas calçadas, entre carros, ônibus, motos e patinetes, a cidade se movia – viva, cheia de urgência,cheia de cor.
E nos parques, árvores antigas se erguiam firmes e generosas, enquanto flores da primavera de todas as cores, de todos os tipos desafiavam o calendário e insistiam em nascer.
Olhei tudo aquilo, calada, e pensei:
Isto é vida.
Isto é resistência, isto é resiliencia.
Isto é a vontade de continuar, apesar das dores, do pranto, e das incertezas
É a pulsação de um povo que insiste, que trabalha, que planta, que ama, que leva crianças ao jardim e cães para passear, mesmo em tempos sombrios.
Através da janela, vi o mundo como ele é, e como ele quer continuar sendo.
E, naquele breve trajeto, fui atravessada por um sopro de esperança.
