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Por Lucía Wasserman

Aconteceu no intervalo de uma peça teatral. Era uma noite fria e chuvosa paulistana, típica do mês de junho de 1965.

No grande saguão do teatro, Marcos meu esposo, encontrou seu velho amigo, Ezequiel. Gordinho e baixinho usando óculos de lentes “fundo de garrafa”, fumava seu cigarro, pacificamente, enquanto degustava um copo de vinho.

Uma conversa casual como muitas entre amigos, se desenvolveu entre eles.

-Você lembra do David Michaelevitz, o Davizinho que colecionava figurinhas de jogadores e futebol, que era meu vizinho no Bom Retiro? -perguntou Ezequiel.

-Claro que sim, ouvi dizer que ele é médico… agora é Dr. David, aliás ele estudou na mesma Faculdade de meu cunhado.

-Pois é, além de ter-se formado médico, virou agora sionista. Criou um grupo de pessoas que querem fazer Aliah para Israel.

-¿Israel? Justamente, este é também meu sonho, respondeu Marcos admirado, também nos temos este plano, mas como concretizá-lo… mais e mais eu me afundo nos negócios.

A conversa e o encontro casual marcaram nosso destino.

Passadas algumas semanas e inúmeras conversas com o organizador do grupo, resolvemos aderir a ele, constituído por umas dez famílias, cujo objetivo era preparar-se e emigrar para Israel.

A ideia há tempos sonhada e idealizada por nos, mas difícil de executá-la, de repente ganhou forma.

Para nós um jovem casal de advogados, recém formados, pais de dois filhos de tenra idade ficamos surpreendidos ao participar do primeiro encontro.

Tirando do Dr. David e sua esposa Raquel, os participantes eram todos bem mais idosos do que nos. Gente vivida, gente de posses, alguns aposentados, um dentista, outro médico, comerciantes, ativistas sionistas. que pretendiam viver os últimos anos de vida em Israel.

O destino ou o acaso nos conduziu ao Grupo Aliah. A linha ideológica do grupo era de ativistas e simpatizantes do movimento Avodá, e a ideologia sionista trabalhista optava por duas opções, era se o grupo deveria se organizar de modo cooperativo, viver em um kibutz ou cada um de forma individual, o que retratava as ideias ingênuas de que tínhamos de como era a vida em Israel.

Alguns dos membros do grupo haviam participado de seminários em Israel, e eram os “informantes” ideais. A maioria voltava entusiasmada da pela Nova-Antiga Terra Santa.

Com o tempo nossos encontros se tornaram cada vez mais frequentes,

e as discussões entre os participantes seguiam noites adentro.

Nossas famílias, pais e irmãos nos consideravam loucos.

”¿Cómo abandonar tudo, família, amigos, carreira exitosa, por uma aventura, num país cercado de inimigos, e em situação econômica incerta?”

Assim mesmo resolvemos embarcar nesta “aventura”. Eu havia recém terminado a Faculdade de Direito, e Marcos já ativo advogado trabalhava com o irmão engenheiro em grandes projetos imobiliários. Pela frente tinha um futuro promissor.

A ideia de eu concordar em fazer Aliah, havia sido uma das condições da realização de nosso casamento. Com este objetivo, em 1961 aqui passamos nossa lua de mel. Israel de “então “, era pequena, feia e modesta, socialista e militarista, as pessoas boas e rudes. Tel Aviv, terminava na Kikar Hamedina…

Não nos apaixonamos pelo país mas ele nos deu a sensação de nos “sentirmos em casa”. Deixamos então Israel, programando um dia voltar. Voltar para ficar.

E quem melhor do que um sheliah da Sochnut (enviado de la Agencia Judía) que servia naquela época no Brasil, para dar respostas às perguntas que se repetiam. Ele nos orientava.

-¿Quais as facilidades que o país concede a novos imigrantes?

-¿Quais as possibilidades de comprar um imóvel com hipoteca a longo prazo, com, ou sem juros?

-¿Vamos ter que prestar serviço militar?

-¿Qual é o salário em Israel? ¿Haverá trabalho para todos?

-¿Os aposentados receberão ajuda do governo?

-¿Onde iremos morar?

-¿Teremos assistência medica?

A ideia era que, como grupo iriamos morar num mesmo edifício recem construído por um investidor brasileiro, na Rua Eilat, na cidade de Holon.

Decidiu-se também, que para tirar duvidas, nosso Grupo Aliah nomearia dois representantes que visitariam Israel, e na volta eles seriam os portadores de todas as respostas.

O fundador do grupo Dr. David que deveria viajar, acometido de um cancer violento, infelizmente foi internado num hospital.  Em seu lugar Valter, um ex-austriaco sorridente foi escolhido a substitui-lo, juntamente com Marcos meu marido.

A Sochnut lhes colocou a disposição dois quartos em Beith Brodetski e durante mais de três meses eles estudaram, pesquisaram e fizeram um levantamento da situação. Israel no ano de 1966, atravessava um período de grande recessão econômica.

Depois de semanas de procura finalmente surgiu um projeto. Receberam do Prefeito de Tel Aviv, então Yoshua Rabinovitch a opção de adquirir um belo terreno frente ao mar em plena Rehov Hayarkon, e lá construir um Hotel. Voltaram animados trazendo com eles um projeto do famoso arquiteto Itzhak Iashar.

O grupo entusiasmado tornou-se mais unido e coeso, e a maioria já fazia seus planos de quando abandonar o Brasil vendo no projeto a possibilidade de trabalho em Israel.

Entrementes Dr. David veio a falecer. Deixou uma viúva e três filhos pequenos os quais anos depois seguiram e cumpriram seu sonho de Aliah. Em sua homenagem o Grupo Aliah passou a ser denominado “Grupo David Michalevitch”

O projeto da construção do hotel foi apoiado pela Sochnut.

Tudo caminhava bem, até que o a imprensa brasileira publicou o “Escândalo do mercado negro”, quando foram caçados e punidos culpados do extravio de moeda para o exterior.

De um momento para outro o pânico se instalou em possíveis investidores Off Shore.

O sheliah da Sochnut, assustado, decidiu que se queimassem todos os inocentes papeis e projetos daquela entidade, que os pudessem incriminar, entre eles o projeto do hotel da Rehov Ayarkon.

Meu marido e meu cunhado se ”voluntariaram em liquidar” no quintal de suas casas, o material ”suspeito”, e uma longa fumaça enuviou os prédios vizinhos, que estranharam “a festa “ que não condizia com a data de Lag Ba Omer.

Fomos a primeira família do grupo a realizar sua Aliah, a bordo do Theodor Herzl, em março de 1967.

Resolvemos optar e alugar uma casa num bairro de Tel Aviv, de veteranos militares. Sabíamos que a ideia de morar num mesmo edifício não coadunava com nossas personalidades individualistas

Aos poucos as famílias do “Grupo Aliah David Michalevitch” foram chegando. Decorridos três anos todos haviam feito Aliah, e viviam em diferentes cidades de Israel.

As famílias que chegaram permaneceram, cresceram e se multiplicaram.

Com o correr dos anos os mais velhos nos deixaram. As novas gerações chegaram. O elo da vivencia conjunta e amizade terminou.

Esta é a estória que queria contar. Uma estória de mais de 50 anos de vivencias, alegrias, tristezas e emoções em Israel.

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